sábado, 20 de julho de 2019

Redação nota Mil do Enem

NOTA MIL
O que faz uma redação ter a nota máxima? Esta é uma dúvida comum entre os muitos estudantes que prestam vestibular e a prova do Enem todos anos; Além de ter coerência com o tema, pontuação e gramática perfeitas, é necessário demonstrar um conhecimento extra, afinal escrever corretamente é obrigação, escrever bem é dever, mas demonstrar conhecimento de mundo, conhecimento cultural é o plus que se procura.
Abaixo deixo para a apreciação dos senhores leitores, uma das redações que tiveram nota 1000, no Enem do ano passado. A redação do estudante Lucas Felpi, além de ter coerência e coesão ao tema, uma sequência lógica, pontuação, acentuação perfeitas, tem também a apresentação de itens que demonstram um conhecimento geral elevado, o que é desejado e procurado atualmente, pois é necessário saber mais, conhecer mais, não apenas regras gramaticais, mas é importante saber o que está acontecendo de mais relevante atualmente no mundo, e ter a capacidade de fazer uma relação entre fatos passados com fatos presentes é maravilhoso, saber comparar fatos reais com livros de ficção e até séries televisivas demonstram uma habilidade incrível.
Eu li a redação, e não daria menos que 1000. Leiam os senhores e tirem suas conclusões.

Fernanda Alves
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“Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Por Lucas Felpi
No livro 1984 de George Orwell, é retratado um futuro distópico em que um Estado totalitário controla e manipula toda forma de registro histórico e contemporâneo, a fim de moldar a opinião pública a favor dos governantes. Nesse sentido, a narrativa foca na trajetória de Winston, um funcionário do contraditório Ministério da Verdade que diariamente analisa e altera notícias e conteúdos midiáticos para favorecer a imagem do Partido e formar a população através de tal ótica. Fora da ficção, é fato que a realidade apresentada por Orwell pode ser relacionada ao mundo cibernético do século XXI: gradativamente, os algoritmos e sistemas de inteligência artificial corroboram para a restrição de informações disponíveis e para a influência comportamental do público, preso em uma grande bolha sociocultural.
Em primeiro lugar, é importante destacar que, em função das novas tecnologias, internautas são cada vez mais expostos à uma gama limitada de dados e conteúdos na internet, consequência do desenvolvimento de mecanismos filtradores de informações a partir do uso diário individual. De acordo com o filósofo Zygmund Bauman, vive-se atualmente um período de liberdade ilusória, já que o mundo globalizado não só possibilitou novas formas de interação com o conhecimento, mas também abriu portas para a manipulação e alienação semelhantes vistas em “1984”. Assim, os usuários são inconscientemente analisados pelos sistemas e lhes é apresentado apenas o mais atrativo para o consumo pessoal.
Por conseguinte, presencia-se um forte poder de influência desses algoritmos no comportamento da coletividade cibernética: ao observar somente o que lhe interessa e o que foi escolhido para ele, o indivíduo tende a continuar consumindo as mesmas coisas e fechar os olhos para a diversidade de opções disponíveis. Em um episódio da série televisiva Black Mirror, por exemplo, um aplicativo pareava pessoas para relacionamentos com base em estatísticas e restringia as possibilidades para apenas as que a máquina indicava – tornando o usuário passivo na escolha. Paralelamente, esse é o objetivo da indústria cultural para os pensadores da Escola de Frankfurt: produzir conteúdos a partir do padrão de gosto do público, para direcioná-lo, torná-lo homogêneo e, logo, facilmente atingível.
Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o quadro atual. Para a conscientização da população brasileira a respeito do problema, urge que o Ministério de Educação e Cultura (MEC) crie, por meio de verbas governamentais, campanhas publicitárias nas redes sociais que detalhem o funcionamento dos algoritmos inteligentes nessas ferramentas e advirtam os internautas do perigo da alienação, sugerindo ao interlocutor criar o hábito de buscar informações de fontes variadas e manter em mente o filtro a que ele é submetido. Somente assim, será possível combater a passividade de muitos dos que utilizam a internet no país e, ademais, estourar a bolha que, da mesma forma que o Ministério da Verdade construiu em Winston de “1984”, as novas tecnologias estão construindo nos cidadãos do século XXI.

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